quarta-feira, 30 de julho de 2008

A viagem de Palma (Parte II)

Após a janta mexicana em Gibraltar, perdemos cerca de 50% da tripulação, ou seja, ficou o marinheiro Contreiras e o Imediato Bispo entregues às suas respectivas famílias, pelo que este pobre Arrais e o Armador ficaram a “solo” no veleiro. Depois duns cigarritos em DUTY FREE e gasóleo a preços que fazem lembrar o antigamente, saímos da “Bay Marina” e demos de trombas com o VENTURA, um barquito que a Galega Mar tem fotografado no Porto de Vigo. O gajo é grande, muito grande e enorme. Com tanta varanda e tanta gente a bordo, não conseguimos ver ninguém em trajes menores. Para a próxima vez que for a Gibraltar, em vez de comprar cigarros, comprarei um par de binóculos. Poupam-se os pulmões e regala-se a vista. Fiquei curioso em visitar Gibraltar (da parte de dentro) – gostei da atmosfera, e esta vontade aguçou-se a dobrar o Cabo Europa. Cabo dobrado e vento quadruplicado. São muito manhosas as fífias do vento, quando se navega junto aos cabos na zona do estreito, mas o Cap. Salgueiro já estava avisado e tinha experiência de passagens em anos anteriores.
Fomos em rota batida até Fuengirola, com a temperatura do mar a subir até 26,5º e havendo pausas constantes para os denominados mergulhos recreativos. Da pesca a bordo não apareciam resultados, e o prato de Atum fresco adiava-se mais um dia. A navegação assentava numa bolina (mais ou menos) cerrada com pouco vento, que quando abrandava juntávamos os cavalos do VOLVO PENTA. No horizonte, a quantidade de petroleiros, gaseiros e graneleiros de dimensões gordas aumentava e pelo VHF ouvia-se o inevitável. O TARIFA RADIO CONTROL pedia a todas as embarcações para prestarem a atenção devida em determinada área para objectos de madeira à deriva e 2 corpos entretanto desaparecidos. É o drama dos “balseiros” a jogarem com a vida a sua própria sobrevivência. Sempre atentos ao VHF, fomos ouvindo a possibilidade de uma “atrapalhação atmosférica” a norte da Argélia, que induzia LEVANTE e condições de força 7. Pensámos de pronto assentar arraiais em Fuengirola por 2 dias, mas a borrasca não se concretizou, facto que não veio a alterar os nossos planos. A ideia de passar 2/3 dias em Ibiza sem navegar e no "dulce far niente" mantinha-se de pé. Esta foi a perna mais curta, tendo chegado a Fuengirola ainda o sol estava alto, para encontrar os novos tripulantes que embarcariam naquele porto. Conhecidos os tripulantes e a mercearia que embarcaram, ficámos logo a saber o menu do Jantar. Coelho estufado à moda de Sesimbra, amplamente regado com taninos dourienses não rotulados. Embarcados o Cozinheiro João Cruz e seu filho – Inspector (de redes) Mário e convidados os tripulantes do LADYBIRD, foi servido a bordo um fausto banquete, que culminou com os convidados a lamberem ferozmente o tacho no final da refeição. Seguramente que a espessura do tacho ressentiu-se num décimo de mm, tal a violência das lambidelas. Convém referir que este tipo de comportamentos da parte dos algarvios remonta à 1ª metade do Sec. XIV. Digestivos tomados rumámos à cidade para ver as modas…

1 comentário:

Eugénio disse...

o veiguinha está tão "copulado" que já nem comenta nada hehehehehe