quinta-feira, 31 de julho de 2008

A viagem de Palma (Parte III)

O dia ainda não tinha acordado em Fuengirola quando o BACCUS LIBER se fez ao mar. O Douro tinto da véspera era mesmo de boa colheita, razão pela qual os hálitos estavam afinados, não havia olheiras de “mau-dormir” e a boa disposição era reinante. O destino e o ETA seria o que fosse, pois a ameaça do tempo e a incongruência das previsões assim o ditavam. A única preocupação era somar milhas e mais milhas rumo às ilhas baleares. Se abrisse borrasca, encostaríamos a uma marina, que é coisa que não falta nas costas da Andaluzia, apetrechadas de boas esplanadas. Se o São Pedro colaborasse e o nível anímico se situasse acima dos 65%, porque não parar em Formentera. O nível da mercearia a bordo era mais que satisfatório, o nível dos líquidos e fluidos também estava OK, pelo que havia condições para velejar, para fazer umas pescarias de tunídeos e afins e matéria-prima para GIN TÉCNICO. O calor ia aumentando, o vento era constante de 10/15 nós e noite fora fomos rasgando as águas do Mediterrâneo. Com o vento sempre por companhia, íamos adivinhando os saltos de vento, e ora a vela e motor, ora simplesmente à vela, dobrou-se o infindável Cabo de Gata. O armador, sempre confiante nos seus dotes de pesca, ia lendo e relendo um livro japonês, onde era descrito com bastante minúcia a preparação do Atum. Como amanhar o bicho, como escolher as facas correctas, como tirar a pele, etc, eram tudo pormenores que o nosso armador já dominava. Pela manhã, ouvimos o tão desejado Boletim Meteo que indiciava a continuação das condições relativamente favoráveis de vento e mar. Força 4-3 que em linguagem mediterrânica corresponde ao nosso 1-2 de Aveiro. Aportámos em Garrucha ao final da manhã com o propósito claro de encher a mercearia, o “gasoil”, tomar umas banhocas e almoçar de faca e garfo. A ida à mercearia calhou-me a mim mesmo e ao cozinheiro, que atulhámos o carrinho conforme ordens do armador, e nada mais fácil para trazer a mercearia para bordo, que trazer o próprio carrinho de compras. Pouco formal, mas muito muito funcional. A marina de Garrucha é acolhedora, barata, há uma grande superfície a 800mts da marina e muito comércio local. Os preços pareceram-nos relativamente baixos para a zona e para a época. Voltaríamos a sair da marina cerca das 20 horas, com rumo de proa ao Cabo de Palos, para ver o que dava daí em diante. O “ladybird” acompanhava de perto. Passada a noite, foi cumprido o ritual de meter novamente o “corrico” do atum, pois adivinhava-se peixe fresco a bordo. Continuávamos em vela e motor, com um único propósito - somar milhas. O caminho faz-se navegando...
(continua no próximo número)

quarta-feira, 30 de julho de 2008

A viagem de Palma (Parte II)

Após a janta mexicana em Gibraltar, perdemos cerca de 50% da tripulação, ou seja, ficou o marinheiro Contreiras e o Imediato Bispo entregues às suas respectivas famílias, pelo que este pobre Arrais e o Armador ficaram a “solo” no veleiro. Depois duns cigarritos em DUTY FREE e gasóleo a preços que fazem lembrar o antigamente, saímos da “Bay Marina” e demos de trombas com o VENTURA, um barquito que a Galega Mar tem fotografado no Porto de Vigo. O gajo é grande, muito grande e enorme. Com tanta varanda e tanta gente a bordo, não conseguimos ver ninguém em trajes menores. Para a próxima vez que for a Gibraltar, em vez de comprar cigarros, comprarei um par de binóculos. Poupam-se os pulmões e regala-se a vista. Fiquei curioso em visitar Gibraltar (da parte de dentro) – gostei da atmosfera, e esta vontade aguçou-se a dobrar o Cabo Europa. Cabo dobrado e vento quadruplicado. São muito manhosas as fífias do vento, quando se navega junto aos cabos na zona do estreito, mas o Cap. Salgueiro já estava avisado e tinha experiência de passagens em anos anteriores.
Fomos em rota batida até Fuengirola, com a temperatura do mar a subir até 26,5º e havendo pausas constantes para os denominados mergulhos recreativos. Da pesca a bordo não apareciam resultados, e o prato de Atum fresco adiava-se mais um dia. A navegação assentava numa bolina (mais ou menos) cerrada com pouco vento, que quando abrandava juntávamos os cavalos do VOLVO PENTA. No horizonte, a quantidade de petroleiros, gaseiros e graneleiros de dimensões gordas aumentava e pelo VHF ouvia-se o inevitável. O TARIFA RADIO CONTROL pedia a todas as embarcações para prestarem a atenção devida em determinada área para objectos de madeira à deriva e 2 corpos entretanto desaparecidos. É o drama dos “balseiros” a jogarem com a vida a sua própria sobrevivência. Sempre atentos ao VHF, fomos ouvindo a possibilidade de uma “atrapalhação atmosférica” a norte da Argélia, que induzia LEVANTE e condições de força 7. Pensámos de pronto assentar arraiais em Fuengirola por 2 dias, mas a borrasca não se concretizou, facto que não veio a alterar os nossos planos. A ideia de passar 2/3 dias em Ibiza sem navegar e no "dulce far niente" mantinha-se de pé. Esta foi a perna mais curta, tendo chegado a Fuengirola ainda o sol estava alto, para encontrar os novos tripulantes que embarcariam naquele porto. Conhecidos os tripulantes e a mercearia que embarcaram, ficámos logo a saber o menu do Jantar. Coelho estufado à moda de Sesimbra, amplamente regado com taninos dourienses não rotulados. Embarcados o Cozinheiro João Cruz e seu filho – Inspector (de redes) Mário e convidados os tripulantes do LADYBIRD, foi servido a bordo um fausto banquete, que culminou com os convidados a lamberem ferozmente o tacho no final da refeição. Seguramente que a espessura do tacho ressentiu-se num décimo de mm, tal a violência das lambidelas. Convém referir que este tipo de comportamentos da parte dos algarvios remonta à 1ª metade do Sec. XIV. Digestivos tomados rumámos à cidade para ver as modas…

terça-feira, 29 de julho de 2008

A viagem de Palma (ParteI)


Para além dos meteoritos, há coisas que caem do céu. Na semana passada fui numa “tirada” rumo a Palma de Maiorca a bordo dum BAVARIA 46 pés, pertença de um amigo de um amigo meu. É deste tipo de tarefas que toda a gente gosta e estes convites caem do céu. Saída de Olhão numa sexta à noite e regresso na outra segunda-feira.
Dia 1 – Olhão até Chipiona
Dia 2 – Chipiona até Gibraltar
Dia 3 – Gibraltar até Fuengirola
Dia 4 - Fuengirola até Garrucha
Dia 5 – Garrucha até Formentera
Dia 6 – Formentera
Dia 7 – Ibiza
Dia 8 – Ibiza até Palma de Maiorca
Olhando para trás e para as águas da nossa costa norte atlântica, não fica saudade na memória. Água morna, água pouco saltitante, água azul, enfim… resumindo “água benta”.
A saída marcada da Ria Formosa, poiso do Olhão, propriedade do IPTM, ou melhor, aquela marina que é só para quem o IPTM quer e não deixa lugar a passantes, com uma tripulação tipo DREAM TEAM a saber: Cap Salgueiro na qualidade de Armador e Patrão, Imediato Bispo, marinheiro Contreiras e eu na qualidade de ordinário Arrais. Tivemos ainda o privilégio de ter como companhia a embarcação LADYBIRD, que em Tuga se poderá traduzir de forma livre por PASSARINHA, mas que apesar do sugestivo nome apenas levava homens. O Cap. Rui, o imediato André, o escrivão de nau Ricardo e finalmente como gaiato de navio o “Zé Mascalzone”.
No primeiro dia de navegação, apanhamos a água trapalhona do Algarve, com uma ondulação de 1 metro muito escangalhada, induzindo uma mareação muito chata com a embarcação a bater (ainda que pouco) em todas as direcções e muito spray. Vento a proporcionar uma bolina pouco cerrada e suficiente para 5/6 nós com adorno a bombordo. Bom ou muito bom, quando comparamos com as condições de navegabilidade de Aveiro e arredores. Mecanicamente houve uma pequena “traição traiçoeira” do VOLVO PENTA, que deu para reparar à boca da marina de Chipiona, tendo a máquina ficado rejuvenescida e com garantia de 12 meses.
Janta em Terra firme em restaurante de rua com tapas (biquerones, calamares e companhia) e um prato “sólido” de carne, acompanhado (e muito) por cañas, Rioja e chupitos.
Na segunda jornada e com rumo traçado para “La Roca de Sua Magestada La reina ISABEL”, com tempo sorridente e ondulação a variar de 12 a 14 cms, proporcionando a espaços um larguinho suave, com a embarcação bem oleada com SAGRES MINI.

O “mareo” do dia anterior já tinha abandonado a anatomia do ouvido médio e a boa disposição reinava nas almas dos navegantes. A sopa, perdão, a água registava já 24º a 25º (dos CELSIUS), que deu para umas “banhadas à corda” na ré da embarcação, mesmo de través do Cabo Trafalgar. O Cap. Salgueiro lá ia fazendo as contas para aproveitar a (super)boleia das correntes no estreito, tendo penetrado a 8/9 Kn de SOG. Perfeito. Sem antes termos registado a bordo a passagem de um aniversário pela barba do marinheiro Contreiras, que mereceu a confecção de um bolo especialmente confeccionado pelo nosso armador. Regámos a efeméride com aquela coisa francesa, amarelada, com bolhas e rolha de cortiça, que dá pelo nome de MOET & CHANDON, e foram cantados os parabéns por VHF, apesar dos Decretos e Portarias proibirem tais coisas.

Mas o marinheiro Contreiras merecia e cantou-se a coisa em tom afinado a duas vozes com falsete de VHF. Pela vizinhança avistava-se uma crista no continente africano e várias embarcações do tamanho do ALFA PENDULAR, que se deslocam muito rápido sobretudo quando a tripulação se distrai mais um bocadinho com o abre-latas na mão. Chegada à Rock, já com lusco-fusco instalado e jantarada num Restaurante Pseudo-mexicano adjacente à marina, que usava especiarias de primeiríssima categoria, cujo fulgor excitou as nossas tripas e hemorróides durante as 48 horas seguintes. Acabada a refeição, notámos que estávamos em Inglaterra (ou coisa parecida), pois todos os tascos estavam já CLOSED, havendo apenas meia dúzia de drogados mansos a circular, mais 14 dúzias de MARROQUINS que entretanto tinham chegado num Ferry tardio. Juro, que não vi ninguém de “cú para o ar” com os holofotes virados para Meca.


(Continua no próximo número)

terça-feira, 15 de julho de 2008

É bom aprender línguas

Todos nós sabemos (que até na náutica de recreio) é cada vez mais importante o dominio de línguas estrangeiras. Parafraseando o Cap. Licas - "é bom gostar de línguas estrangeiras". Descobri por mero acaso, um curso intensivo pela net, que ajuda-nos a comprender 3 coisas básicas: O Espanhol, o Inglês e como os espanhóis vão aprendendo inglês na TVE. Aqui fica apenas a 1ª lição, com um sotaque de origem.


Para aqueles que queiram tirar o "canudo", é fácil sigam este link para o YOUTUBE e estudem.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Catraiada do IPO Porto

Está (timidamente) referenciado no site da AVELA, o passeio com a "catraiada" do IPO do Porto. Julgo ser um passeio com caracter anual, mas apenas participei 2 vezes, ainda ao leme do WOOLOOMOOLOO. Na tentativa de confirmar este evento, ainda disparei 2 telefonemas e ao que pude constatar a coisa está de pé. Lamento também esta coisa ser tão pouco divulgado, pois várias vezes aconteceu e eu (que até sou rapaz atento) nada soube ! ! ! Por vezes recebemos "torrentes" de mails, outras "rien de rien". Na última vez que participei, o passeio iniciou-se no pontão da AVELA, segui-se uma velejada até à Base de São Jacinto, atracámos no pontão dos "homens verdes" e segui-se um repasto na cantina da Base (acho que se chama Messe). O cozinheiro-chefe foi o Eng. Senos da Fonseca do CVCN, que como eu tem barbas e um Beneteau 305 DL. Na organização da malta, esteve a Teresinha (esposa do Salú), que julgo estar com Relações Públicas da Associação sem fins lucrativos - ACREDITAR. Foi muito giro o passeio com os miúdos a deliciarem-se com a actividade e verdade seja dita - o tacho também não foi mau.
Como é hábito nestes passeios, a garotada gosta de usar o VHF, para falar uns com os outros, e nas 2 vezes que participei os rádios não pararam. Acontece que estávamos (como sempre) no Ch 9, e ouviram-se alguns comentários (desagradáveis) sobre a utilização deste canal. Desta vez recomendo vivamente que se escolha um canal que não interfira com a navegação em geral. Portanto, convida-se a comunidade vélica em geral a aparecer Sábado pelas 09h30m no Pontão da AVELA, e se possível virem munidos de coletes de criança. Para a noite, também se arranjará "programa", pois as saudades de uma noite em Saint Jacint sur-mer são mais que muitas.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Para aventureiros

Desta feita não se trata de nenhuma nova patente de Montemor-o-Velho. Isto cheira-me a States of América. Uma canoa, ao que parece feita em plástico do tipo Tupperware desenhada para um individuo (ou individua) olhar para os fundos e marrar contra um penhasco ! Pimba!
Aparenta tratar-se de uma coisa (mais ou menos) leve, que cabe em qualquer furgão e óptimo para passar um dia em familia. Leva-se toda a familia para a orla, a familia unida coloca a "coisa" na água com muito cuidado para não riscar o fundo e o remador (pagaiador) diverte-se o dia todo, com umas sandochas que leva numa mochila. Ao fim do dia, voltamos a unir a familia para carregar tudo direitinho no furgão, mas sempre com muito cuidadinho para não riscar.
Esta embarcação é apropriada à Ria de Aveiro para todos aqueles que não sejam impressionáveis com facilidade. Imagine-se o panorama (que já foi pior - é verdade) de observar dejectos de cor acastanhada, pretos, às curvas, tipo suspiro ou tipo alheira, ou ainda, preservativos de várias cores, fraldas, garrafas, sacos plásticos do hiper e toda uma parafernália de items que flutuem, a passar debaixo da visão (e das pernas) do remador. Ao passar junto ao "emerdário de São Jacinto", ao ver todo o "spray" misturado com restos das páginas amarelas que servem de embrulho à isca. A adrenalina aparecerá.

Para além de tudo isto, caso o "felizardo" opte pelo Mondego como contacto privilegiado com a Mãe-natureza, acresce a possibilidade de ver "in loco" ao vivo e a cores, o coito dos Lagostins de água doce, classificado como a maior orgia aquática da Peninsula Ibérica. Diga-se de passagem, que este fenómeno já foi muitas vezes fotografado (com efeitos de contraluz e sombras) pelo maior bloguesforante do Mondego, e passado a documentário cientifico fazendo parte da colectânea "BBC Vida Selvagem" (Fascículo 32).

Para encomendar esta brincadeira, aqui fica o link. Devem aceitar MasterCard e Visa.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Águas do meu Portugal

Este é um blog que se verga em hidroassuntos, pelo que o referido dito cujo assunto enquadra-se na coisa.


Conforme noticía hoje o Público e o Jornal de Noticias a AdP (uma espécie de EDP das Águas que ainda não foi à Bolsa de Valores), foi auditada pelo Tribunal de Contas. E Pronto a malta ficou a saber o que já se sabia, a saber: são depósitos de prejuízos e rios de gratificações por objectivos alcançados. Para variar o TC também acha que gastaram demais com viaturas !!! O tribunal não deverá saber, que esta malta viaja muito dentro das condutas !!!


No site do Tribunal de contas, podem descarregar em *.pdf o relatório da auditoria. Prestem atenção nas respostas do Conselho de Administração aos auditores, que está transcrita nas últimas folhas.

Esta República é do melhor. Aprendi na Escola Secundária Marques de Castilhos, que a molecula da água era uma molécula simples. Parece que agora já não é.
Tinha de vir o Tribunal de Contas complicar a quimica da coisa.
Conselho de Administração
Presidente: Pedro Eduardo Passos da Cunha Serra
Vogal: Justino Manuel Matias Carlos
Vogal: António Manuel da Silva Branco
Vogal: João Manuel Lopes Fidalgo
Vogal: José Maria Martins Soares
Vogal: CGD representada por Francisco Manuel Marques Bandeira
Vogal:Parpública - SGPS, S.A. representada por João Manuel de Castro Plácido Pires

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Mar da Palha

Os perigos que o Mar da Palha esconde. Reportagem da responsabilidade da TV MAMA, que passou na National Geographic e vai repetir dentro em breve na RECORD TV. Imagens surpreendentes e reais.
Imagem : José Ângelo Gomes Produção: João Manuel Rodrigues
Unbelievable Storm - Celebrity bloopers here

terça-feira, 1 de julho de 2008

Mondego no seu melhor . . .

Eis mais um modelo inovador criado em Quinhendros e desenvolvido na Ereira, destinado ao promissor e exigente mercado do "Baixo Mondego". Disponível em várias cores e brevemente em versão "Sofá", reúne todas as condições para a pesca da boga, do achigã, do barbo e da carpa. O "gadelhudo" da foto não é quem poderão pensar, mas sim Joaquim Almeida morador na outra margem do Mondego, mais concretamente em Granja do Ulmeiro.

Assim valerá a pena pescar - comentam os "Montemorenses", que diga-se em abono da verdade, são muito "achacados" a problemas musculares nos lombares e dorsais. Para eles esta invenção não é mais do que uma (mega) revolução na robótica e na arte de pescar, havendo quem defenda a dedução das despesas com a aquisição desta embarcação, na rubrica "despesas com saúde" no Mod.3 de IRS. Para os mais distraídos pf concentrem-se na foto, onde são visiveis dois patos sendo o da direita pertencente à Reserva Natural do Paul de Arzila, e o da esquerda é meramente civil.