sexta-feira, 9 de março de 2007

Francisco Lobato

Aconselhamos vivamente a visita ao "site" www.franciscolobato.com, onde consta um diário de bordo interessante sobre a visita a Aveiro.



Texto retirado do "Diário de Aveiro"


A largada da «Transat 6,50» está agendada para Setembro, mas o velejador Francisco Lobato está a preparar meticulosamente a sua participação. Esta semana, o único português a participar, está atracado na marina da ANGE, na Gafanha da Encarnação.

A preparação de Francisco Lobato, o único velejador português a conseguir a qualificação para a «Transat 6,50», regata oceânica em navegação solitária que vai ligar França ao Brasil, está a passar pela região de Aveiro. O Diário de Aveiro foi ontem encontrá-lo na marina da Associação Náutica da Gafanha da Encarnação (ANGE), onde o «BPI», embarcação que vai utilizar na prova, se encontra atracado, pelo menos até à noite de hoje. O velejador lisboeta de 22 anos veio até aos estaleiros «Delmar Conde», para introduzir melhoramentos técnicos no barco, antes de partir para França dentro de 15 dias. O ponto alto do projecto que Francisco abraçou acontecerá em Setembro quando se iniciar a travessia na embarcação de 6,5 metros, com uma escala apenas na Madeira. A prova tem 4.200 milhas e demora cerca de 30 dias. O velejador confessa que o seu é um barco de série, «Pogo II», que «por ser pequeno não pode ser registado para alto mar, mas nesta prova, a Marinha francesa concede-nos licenças especiais». Natural de um país de marinheiros, Francisco Lobato diz que sentiu o mesmo apelo que levou os portugueses em busca de novos mundos. «O gosto pelo mar, a aventura e a adrenalina que um projecto destes envolve». Nesta fase final de preparação, ele já se encontra consciencializado das dificuldades: «Vou completamente sozinho e não posso ter qualquer tipo de contacto para o exterior, como ligar para casa para levantar a moral, por exemplo. Vai ser duro». Dormir uma hora seguida, por exemplo, será um luxo que não se poderá entregar até concluir a prova. Numa regata deste tipo, explica, «vamos ter que dar o máximo e não temos tempo livre». Em dias mais calmos, «tentarei dormir para recuperar o sono, mas só o farei em períodos de 15 ou 20 minutos, porque vou sozinho a bordo e preciso estar sempre muito atento, para ver se não vêm navios ou se não há outros obstáculos no mar». Até na alimentação não se pode gastar muito tempo. Os mantimentos que leva no «BPI» são à base de comida liofilizada que, «apesar de não ter muito sabor, é leve e fácil de preparar, bastante juntar água fervida». Na «Transat 6,50», além de Francisco Lobato, estarão 83 barcos na largada, em França, da XV edição da prova em 30 anos, já que se realiza apenas de dois em dois anos. A preparação física e psíquica é um requisito que um atleta que pretende participar nesta prova não pode descurar. «Costumo fazer muita natação e ginásio e gosto de complementar com BTT e corrida». Tão ou mais importante é a vertente psicológica e Francisco tem o acompanhamento de um psicólogo.

Apoios à vista

Uma iniciativa destas custa muito dinheiro e só pode levar-se a efeito com muitos apoios. O velejador português diz que o projecto vai custar cerca de 150 mil euros. «Tive que procurar apoios desde que comecei a preparar tudo», conta. Depois de muitas cartas enviadas, de recebidos muitos nãos, o BPI associou-se ao projecto, viabilizando-o. Porque a prova não consiste apenas em ir à «Transat 6,50». O ano passado, Francisco Lobato esteve o ano todo em França, nas provas de qualificação, tendo vencido inclusivamente a etapa até aos Açores, e classificou-se em terceiro lugar no regresso. «Acabando no segundo lugar da geral, o que é feito único para um velejador português», sublinha, acrescentando que, «durante esta época, na classificação geral, fiquei em primeiro lugar, o que é óptimo para o primeiro português que participa». Por isso, as expectativas para a «Transat 6,50» estão em alta. «Não gosto de dizer que vou ganhar, mas não posso esconder que vou tentar, pelo menos, um lugar entre os cinco primeiros, se tudo correr bem», adianta. É que, numa prova com estas características, tem tudo mesmo que correr bem, porque basta falhar um pormenor durante a viagem para deitar todo este esforço por terra. Como bom velejador, Aveiro não constitui novidade para ele, mas desta vez passou um mau bocado para entrar na barra. «A minha chegada foi complicada, porque na madrugada de anteontem, o mar estava muito mau, a barra estava fechada e houve algum perigo. Tive que esperar quase cinco horas para que a maré virasse e então conseguir entrar». A largada da «Transat 6,50» está agendada para dia 16 de Setembro de La Rochelle, rumando à Madeira –1.000 milhas a cumprir em cerca de 8 dias e, posteriormente, até São Salvador da Baía – 3.200 milhas a velejar ao longo de 25 dias.

O «skipper» Francisco Lobato

Com apenas alguns meses de vida fez a sua primeira viagem marítima até Gibraltar com o seu pai e avô, e desde aí não parou de navegar. Francisco Lobato fez viagens ao longo da nossa costa Atlântica e pelo mar Mediterrâneo, nomeadamente até à Madeira, Norte de África, Baleares e Costa Espanhola. Aos sete anos, entrou na escola de vela da Associação Naval de Lisboa e iniciou-se na classe Optimist. Aos 11 anos foi, pela primeira vez, a um campeonato do mundo. Foi várias vezes campeão nacional em diferentes classes, já participou em mais de 15 campeonatos do mundo e da Europa, foi medalha de bronze no campeonato europeu de Laser (classe Olímpica) e medalha de ouro no campeonato Centro-Sul-Americano Sub 21. Esteve integrado no projecto de esperanças Olímpicas e na equipa pré-olímpica para Atenas 2004. Em 2005 participou em várias regatas em solitário, fez cerca de 2.000 milhas em navegação solitária e venceu a etapa rainha (a mais comprida) da Volta a Portugal «Lisboa – Algarve». Francisco considera a «Transat 6,50» como uma das primeiras «montanhas» a escalar antes de chegar ao «Evereste» da vela - a volta ao mundo em solitário.

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